Como Consultora de organização, já perdi a conta às vezes que ouvi mães (e alguns pais) desesperadas. “Como faço para que os meus filhos sejam mais arrumados?”, perguntam-me.
A primeira coisa que lhes digo sempre é: começando por dar o exemplo e sabendo depois conquistá-los para a organização.
Como ensinar às crianças a importância da organização?
– Dar o exemplo
É sobejamente sabido que o exemplo educa mais do que qualquer sermão. No entanto, nem sempre os pais se apercebem de que a desarrumação dos filhos é muitas vezes um espelho dos modelos que eles próprios passam. E nem sempre é totalmente óbvio o modelo que estão a absorver.
Vou dar um exemplo: uma cliente minha queixava-se que as filhas largavam os sapatos na sala de qualquer maneira. Nem ela nem o marido faziam isso, por isso achava que não era por falta de exemplo. No entanto, quando explorei e observei as suas dinâmicas, percebi que era comum ela e o marido largarem casacos, malas ou pastas na sala, quando chegavam a casa. Na ótica das suas crianças, isso era entendido como sendo admissível largar na sala o que trazemos da rua – neste caso os sapatos – em vez de colocar no seu lugar. Para elas não havia diferença entre largar um casaco ou um par de sapatos, e no fundo tinham razão…
O tema resolveu-se criando uma zona de apoio na entrada, onde todos podiam colocar e arrumar o que traziam quando chegavam a casa, como os casacos e os sapatos.
– Conquistar para a organização
Se queremos ter resultados no longo prazo, a organização não pode ser imposta. O que devemos fazer é assegurar que transmitimos o porquê, ou seja, levar a criança a entender porque é importante ser organizada, e quais os benefícios para ela de ter as suas coisas e o seu quarto, arrumados. Ou seja, vamos ter de a conquistar para a organização. E para isso, os pais têm, em primeiro lugar, de ver também a organização como algo positivo, que traz inúmeros benefícios para a nossa vida, e nunca como algo negativo ou um castigo.
Tendo criado um ambiente de exemplo positivo e de atitude positiva perante a organização, podemos então criar, numa criança, comportamentos de organização em 3 fases:
- Criando a competência: Quantas vezes ouvimos os pais simplesmente dizer “Vai arrumar o teu quarto!” ou “Guarda já os teus brinquedos!”. Para nós adultos, se tivermos boas técnicas de organização e arrumação, sabemos exatamente o que isso significa, as tarefas que temos de realizar e como as devemos efetuar para ter um bom resultado. Mas uma criança à qual nunca foi mostrado e explicado como fazer cada tarefa, mesmo aquelas que a nós nos parecem muito óbvias, não vai saber o que é esperado dela e como o fazer. Assim, o primeiro passo é mostrar e explicar. Repetir as vezes que for preciso… Não assumir que sabe;
- Encorajando e apoiando: Estar presente, dando o nosso apoio, com paciência (muita… não vai ficar perfeito, em especial nas primeiras vezes). Elogiar o esforço e o resultado e nunca criticar. Se há algo a corrigir, fazê-lo de uma forma positiva e construtiva;
- Criando a autonomia: Depois de termos garantido que lhe transmitimos a competência e deixámos claro o nosso apoio, caso ele seja necessário, devemos dar espaço para que a criança possa ser autónoma. Isso pode implicar repensar a forma como planeamos as zonas pelas quais queremos que ela seja responsável, de forma a que possa ter facilmente acesso às suas coisas e poder arrumá-las de volta sem problemas. No fundo é olharmos para os seus espaços e para as suas coisas como se fossemos essa criança e adaptar à sua estatura, desenvolvimento motor, etc.. Para criar crianças autónomas e seguras, temos também de aceitar que as coisas podem não ficar exatamente ao nosso jeito. Dos piores erros que podemos cometer é ir a seguir e fazer novamente. Isso vai passar duas mensagens à criança: ela não foi competente, capaz e, por outro lado, que mesmo que não faça bem, alguém vai lá fazer por ela. A desmotivação para continuar está instalada…
A organização e o envolvimento nas tarefas da casa devem ser introduzidas o mais cedo possível, adaptadas à idade da criança, sempre de uma forma positiva e até divertida.
Para crianças pequenas, fazer pequenos jogos para efetuarem determinadas tarefas pode funcionar muito bem.
Ensinar as crianças a arrumar, não é fácil, dá trabalho, exige paciência (muita!), exige persistência, exige consistência (exemplo), mas é um investimento importantíssimo, quer para o bem-estar familiar, quer para a aquisição de ferramentas para o seu futuro, em diversas áreas da sua vida. Por isso, vale cada segundo do nosso esforço…